quinta-feira, outubro 14, 2010

Sobre Moralidade e Política

Muito se tem criticado como espúrias ao processo político-eleitoral o debate sobre temas de ordem moral, cujas crenças subjacentes são frequentemente de origem religiosa. Não misturar “religião” com política, ou “o Estado brasileiro é laico, está na constituição”, “isso não é assunto para eleição” e tantos outros motes são repetidos a exaustão.

Primeiramente vale destacar que não há debate religioso misturado com a política partidária: não me recordo de discussões teológicas sobre qualquer tema de crença de qualquer denominação religiosa, como “predestinação” versus “livre arbítrio”, por exemplo.

O que se tem questionado e debatido é a posição dos candidatos quanto a temas de elevado significado moral para vastos segmentos dos eleitores que confessam alguma das vertentes religiosas existentes (mas isso não é exclusividade de crentes!). Essas pessoas pautam a integralidade de suas vidas pelas crenças e valores que abraçam, e isso inclui a dimensão política: elas não querem ver pessoas com poder político que possam vir a ameaçar, por legislação ou ato executivo, o modo de vida que acreditam como o correto. Isso é um direito inquestionável delas assim como de seus líderes religiosos de abertamente recomendar ou não determinados candidatos quanto ao protagonismo ou antagonismo aos seus valores!

Além do mais, toda ação humana tem um valor moral, muitas vezes até inconsciente para o agente, motivando ou justificando o seu ato. Isso é mais verdade ainda em política, já que governar é administrar a eterna escassez de recursos, fazer escolhas e arbitrar prioridades, sempre privilegiando segmento(s) da sociedade em detrimento, momentâneamente ao menos, de outro(s) (de menor prioridade ou mesmo de interesse antagônico ao do governante).

O debate político deveria se dar inicialmente exatamente pela exposição da “visão de mundo” de cada candidato, seu conjunto de crenças e valores e o que quer modificar, como e para quem para atingir sua visão. Só a partir daí faz sentido se discutir carteira de projetos e programas de governo que sejam consistentes com essa visão e valores. Discutir mais ou menos bolsa família, mais ou menos aumento para aposentados, trem-bala ou privatizações ficam ocas ou sem sentido, e as escolhas dos cidadãos eleitores ficam inevitavelmente pobres.

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