terça-feira, novembro 29, 2005

Fora de Controle

A disputa pelo futuro da internet já começou: de um lado seu criador, os EUA, e do outro o “multi-lateralismo” capitaneado pela ONU ao qual o governo esquerdista brasileiro entusiasticamente aderiu.

Foi realizado em Túnis o “Fórum de Governança da Internet” onde o “terceiro-mundo” com o apoio da UE protagonizou mais um round na luta para tirar os EUA, em particular a entidade privada ICANN, da gestão da rede.

No artigo “Sob Controle” de 21/11, André Machado do caderno “Informática Etc” de “O Globo”, além de apresentar um sumário do evento, entrevista integrantes da comitiva que representou o Brasil no fórum. Como usual em toda causa anti-americana, entrevistador e entrevistados seguem sem maiores questionamentos ou juízos de valor sobre a as posições assumidas. Não há espaço no jornalismo brasileiro para o contraditório, para a apresentação balanceada dos antagônicos, só para a opinião hegemônica. Ninguém se preocupou em ouvir o lado americano para relatar o seu ponto de vista. O meio-argumento “... pôr a segurança do ciberespaço em risco etc etc...” é liminarmente descartado sem maiores delongas.

Trechos de panfletagem explícita:
  • “Foi uma vitória do ciberespaço. Bem que os Estados Unidos tentaram continuar soberanos incontestes da Grande Rede, mas agora, pelo menos, eles têm que dividir com o resto do mundo o ciber-osso que não querem largar.” Interessante, pois a rede nasceu (como um projeto de segurança nacional do governo, diga-se de passagem) e prosperou nos EUA antes de ganhar o mundo, e agora o “mundo” quer tomá-lo deles. O jornalista, travestido de articulista logo no início de sua reportagem, não esconde o entusiasmo ao emitir opinião sobre o resultado do fórum.
  • “Eles não abrem mão do controle da internet, e nós não abrimos mão de tirá-lo deles.” Ingratos e egoístas esses Ianques: inventam e compartilham uma fantástica tecnologia com o mundo e ainda querem continuar no controle dela, tsk, tsk, tsk.

Mais interessante ainda que ao lado do Brasil está a China, este baluarte da democracia em geral e da liberdade na internet em particular. E olha que a motivação de todo esse nhein-nhein-nhein é “democratizar a gestão da internet”. Venhamos e convenhamos: o simples fato de ter a China comunista como promotora de tal movimento já me basta para desacreditar do mesmo. Nada de “democrático” pode surgir daí.


O artigo não toca em algumas questõezinhas básicas:

  • Quais os objetivos em se retirar a gestão da Internet dos EUA? O que motiva tantas nações a quererem isso? Por que tanto esforço?
  • O que se ganharia e o que se perderia?
  • Mais importante ainda, quem ganharia e quem perderia?
  • Como seria essa Internet “multi-lateralista”? Quem decidiria o que, como e quando?
  • O que mudaria (e o que parmaneceria) para o navegador-cidadão comum?
  • Tal mudança seria “segura”?
  • Bater nos EUA, mesmo sendo divertido, deve ser uma razão em si?

Já que o artigo perdeu a oportunidade do contraditório, deixo aqui alguns pontos para reflexão:

  • A Internet é o espaço mais livre e democrático que existe. Afirmo que é assim por que os EUA são o país que mais preza pela liberdade no mundo.
  • Esta liberdade está causando e ainda irá causar grandes mudanças libertárias em todos os cantos. Tal perspectiva apavora ditaduras em geral e comunistas e obscurantistas islâmicos em particular.
  • Este pavor gera como reação o desejo de subjugar a Internet ao domínio estatista dos diversos governos afetados. Ato contínuo, a liberdade conquistada estará terminada.
  • Mesmo em democracias, como os próprios EUA, a Internet está mudando a balança do poder: a grande mídia televisiva e os jornalões da costa leste e da California perderam o poder hegemônico de formar opiniões para uma infinidade de pequenos jornais eletrônicos e blogs que dão voz ao heartland, notadamente conservador e avesso ao esquerdismo chique de Nova Iorque ou de Hollywood. Os inúmeros midia-watch são atentos e implacáveis. O New York Times e a CNN jamais serão os mesmos após a Internet.
A Prudência ensina que “em time que está ganhando não se mexe”, em especial se você não sabe o que vai ganhar com a mudança.

terça-feira, novembro 15, 2005

Outra Resenha Inútil

A correspondente de O Globo em Nova York, Helena Celestino, nos presenteia com mais um libelo ao "políticamente correto" ao fazer uma resenha do filme "Soldado Anônimo" do premiado diretor Sam Mendes.
A correspondente junto sua voz ao coro do patrulhamento hollywoodiano que reza que qualquer filme de guerra deva ser um panfleto político anti-guerra. A crítica esquerdista do New York Times, claro, sempre ela, já marretou o tom "apolítico" do filme: "... debochando da tentativa de ignorar a sangrenta guerra estampada diariamente nos jornais", no que agora se junta a diligente correspondente
Como exemplo de pérola: "É possível fazer um filme de guerra apolítico quando os Estados Unidos estão atolados numa guerra que o mundo e a maioria dos americanos consideram errada?" Claro que é possível minha cara. Primeiro por que a liberdade de expressão o permite, e segundo que, ao contrário de sua crença, nem todos comungam das idéias da imprensa burra e servil ou da esquerda chique intelectualóide nova-iorquina ou californiana. Imaginem então o que aconteceria com o coitado que fizesse um filme claramente pró-guerra do Iraque?
O nível de patrulhamento é tão atroz que não há o menor constrangimento ou vontade de disfarçar o linchamento público que o pobre diretor está sofrendo por ter perdido uma oportunidade de fazer agit-prop contra seu governo. Vais er interessante saber quando ele conseguirá fazer uma nova super-produção em Hollywood... Na cabecinha da correspondente global filme de guerra só se for propaganda contra.
Por tal juízo, milhares de homens honrados e abnegados, sempre prontos a dispor da própria vida para defender valores inalienáveis e a vida de seus concidadãos, inclusive a da dileta correspondente, são quase criminosos que abraçaram uma vida nefasta, de cujas ações nada de bom pode advir.
Além da mesmice de críticas anti-Bush, que não podiam faltar, é claro, a correspondente destila um juízo de valor, que lhe parece universal exceto aos satânicos republicanos, de que toda guerra é perniciosa e errada. O veneno do pacifismo a qualquer preço foi inoculado pela KGB nos primórdios da guerra-fria e visava corroer por dentro a vontade política e a capacidade de defesa do mundo livre, justamente por um dos maiores impérios militares de todos os tempos.
Tal cacoete mental ainda nos fará de escravos a todos.

segunda-feira, outubro 24, 2005

Fecundas Raízes

Com os debates em torno do referendo, tive oportunidade de descobrir um grande grupo de pessoas que comunga de idéias e valores muito semelhantes aos meus. Colegas de trabalho de vários anos, com os quais quase nunca falei sobre política, passaram a trocar e-mails acalorados contra o referendo. Pude observar o quão semelhante éramos não só neste aspecto mas em tantos outros. É verdade que a homogeneidade "natural" do ambiente de trabalho, onde todos têm nível sócio-econômico e formação semelhantes, não permite extrapolar essas observações para o universo da população, mas é um alento constatar que no seio da classe média ainda prosperam antigos valores e ideais, mesmo que não manifestados.

Ontem me surpreendi com minha mãe septuagenária, tão receosa e avessa a qualquer violência, saindo para votar no NÃO com um belo entusiasmo cívico.

Todas estas observações cotidianas me reforçam o convencimento de que por de baixo da terra arrasada e retorcida por décadas de desconstrução cultural esquerdista, respiram fortes raízes prontas a vicejar e a reconquistar o terreno perdido.

Dizem que a ignorância do terreno pode ser um alívio para a alma do viajante e que o mantém no caminho, sem desistir da jornada. Como não enxergo tão longe quanto o mestre Olavo de Carvalho, sigo acreditando em dias melhores.

Próximas batalhas da agenda esquerdista: legalização do aborto e da união civil de homossexuais.

Não ao Desarmamento: Uma Vitória Conservadora

Na noite de ontem, perto de dois terços dos eleitores brasileiros disseram não ao engodo do desarmamento civil. Um rotundo NÃO à rede capitaneada por ONGs com financiamento estrangeiro e à grande mídia de massas (em especial Organizações Globo).

Um alento no deserto de tantos retrocessos. É espetacular que a população tenha superado e se libertado de toda a massiva e hegemônica propaganda pelo desarmamento. O povo, instintivamente, reagindo antes com as vísceras e depois com o cérebro, intuiu que a proposta colocada não lhe traria benefícios e optou por ser prudente e não mudar, açodadamente, um direito e uma prerrogativa que distam da colonização do país.

Tal evento motiva ainda mais um otimismo de que vinha alimentando de que nem tudo está perdido e que há esperanças de o Brasil vir a ser salvo das garras da esquerda internacionalista e sua agenda de guerras de rede contra nossa sociedade.

Como de hábito nos embates entre conservadores e revolucionários, a reação dos primeiros é catalisada e potencializada pelas iniciativas dos segundos. Tal dialética pode parecer inteiramente benéfica aos conservadores pois força seu auto-reconhecimento como detentores de valores comuns, sua aglutinação, coordenação e por final uma ação conjunta, porém, também torna patente que os planos e os cronogramas das batalhas são sempre traçados pelos adversários, cabendo aos conservadores apenas a defesa de seus interesses. Como já apontei em post anterior, este jogo tem como resultados possíveis ou o avanço revolucionário ou, na melhor das hipóteses, um empate onde não há avanço, mas também nenhum retrocesso. Este é exatamente o caso deste referendo.

Os revolucionários continuarão na carga, agora não frontalmente, mas comendo pelas beiradas, e se não ficarmos vigilantes, a vitória de hoje será a derrota de amanhã.

Para virar o jogo de vez, é preciso tomar a iniciativa ofensiva, como por exemplo propor o abrandamento de condições draconianas do estatuto do desarmamento e lutar no Congresso pelo aumento de penas para crimes violentos.

Mas hoje é para comemorar, e com especial deleite, o tom totalmente soturno do Fantástico e a cara de tacho da Glória Maria representando todo o beautiful people global que, mesmo nas rodas de chope das calçadas do Leblon, devem estar com as gargantas um tanto engasgadas.

sábado, setembro 24, 2005

Dez Princípios Conservadores

"Um conservadorismo do instinto precisa ser reforçado com um coservadorismo do pensamento e da imaginação" - Russell Kirk

No ensaio "Dez Princípios Conservadores" (1993) Russell Kirk procurou sintetizar os fundamentos com os quais a maior parte dos conservadores se identificariam. Para Kirk o conservadorismo "é um estado da mente, um tipo de caráter, uma maneira de olhar a ordem social civil" e não há tais coisas como um dogma ou uma ideologia conservadora. "É quase completamente verdadeiro que um conservador pode ser definido como uma pessoa que se pensa como tal", e desse modo uma "diversidade considerável de pontos de vista em muitos temas" costumam estar presentos no elenco de suas crenças.

Resumidamente, (em uma tradução livre) os dez princípios são:
  1. O conservador acredita que existe uma ordem moral duradoura;
  2. O conservador adere ao costume, à convenção, e à continuidade;
  3. Conservadores acreditam no que pode ser chamado o princípio da prescrição;
  4. Conservadores são guiados por seu princípio da prudência;
  5. Conservadores dão atenção ao princípio da diversidade;
  6. Conservadores são purificados por seu princípio da imperfeição (imperfectability);
  7. Conservadores crêem que a liberdade e a propriedade são intimamente ligadas;
  8. Conservadores patrocinam ações comunitárias voluntárias, com a mesma intensidade que se opõem ao coletivismo involuntário;
  9. O conservador percebe a necessidade de prudentes restrições ao poder e às paixões humanas;
  10. O pensador conservador entende que as permanências e mudanças devam ser reconhecidas e reconciliadas em uma sociedade vigorosa.

No "blog" Dez Princípios Conservadores apresento uma tradução completa deste ensaio. Tradução e publicação sob autorização de Annette Kirk.

Com isto, atendendo a pedidos do meu único leitor, espero encerrar os posts teóricos deste blog, cuja proposta original é ser um ponto de Ação mais do que de Reflexão.

Aproveitando o post, indico aos leitores um excelente ensaio comparativo sobre o pensamento de Burke e Hayek: The Liberalism/Conservatism Of Edmund Burke and F. A. Hayek:A Critical Comparison por Linda C. Raeder

terça-feira, setembro 20, 2005

Homens e Instituições

"Razão e ação são congêneres e homogêneas, dois aspectos do mesmo fenômeno." - Ludwig von Mises

Um engodo recorrente é a crença generalizada de que problemas de toda natureza, política, social, econômica, e até morais devam ser enfrentados e resolvidos pela "reforma das instituições". E tome reforma política, reforma tributária, reforma previdenciária e por aí vai. Remédio para a corrupção política crônica? Reforma político-eleitoral! Ninguém pergunta por que estruturas "tortas" estão por aí em primeiro lugar, em geral há muito tempo.

Mais um sub-produto do "logicismo" rasteiro que acredita que um desenho de gabinete para qualquer superestrutura formal do Estado, em geral na forma de uma lei, será suficiente para fazer com que tdos os homens se moldem e se adequem a um comportamento desejado. Tal crença é prima-irmã da que o Estado deva ser a fonte primária das soluções de todos os problemas.

As fundações da casa estão prejudicadas a ponto de que toda construção possa ruir? Reformemos o telhado...

Os homens não irão roubar por que o cadeado é forte e as trancas foram bem projetadas, jamais o serão suficientemente contra uma vontade resoluta. Homens não roubarão por um mandamento ético-moral de suas consciências, parte de sua honra.

Se as instituições não servem aos interesses da coletividade é por que foram adequadas, ao longo do tempo, a atender ao interesse de alguns. Reprojetá-las não resolverá nada se os "alguns" permancerem aparelhando-as.

Mas o aspecto mais instigante deste processo é que todos os demais permitam, por omissão ou inação que assim seja, desde sempre. Qual é a nossa raíz cultural que faz com que toda sorte de aproveitadores busquem na vida politica os meios para enriquecerem ilícitamente e uma vasta maioria de pessoas honestas permite que elas ocupem esse espaço ao mesmo tempo que não se interessa por qualquer envolvimento na gestão de seus próprios legítimos interesses?
Até quando será assim?

quinta-feira, setembro 15, 2005

Ação e Reação

"Pode de fato se provar ser a mais difícil e não menos importante tarefa para a razão humana compreender racionalmente sua próprias limitações. É essencial para o crescimento da razão que como indivíduos nos curvemos à forças e obedeçamos à princípios aos quais não podemos almejar compreender completamente, e que, ainda assim, o avanço e a preservação da civilização deles dependam." - Friedrich A. Hayek
A novilíngua esquerdista conseguiu transformar a palavra reacionário em um verdadeiro xingamento atirado contra seus desafetos. Por exemplo, no Dicionário da Língua Portuguesa Online - Priberam consta como definição (de Portugal) para a palavra:

reaccionário

adj.,

contrário à liberdade;
relativo à reacção;

s. m.,

sectário da reacção política ou social;
conservador;
absolutista.

Interessante que logo a primeira definição seja "contrário à liberdade" (adj.), a última "absolutista", e entre elas "conservador", sendo as duas outras as definições "neutras".

Reação é uma condição natural para o Conservador, que está continuamente ameaçado, em muitas frentes, pela militância revolucionária engajada em destruir seu universo sócio-político-cultural. É o mundo estabelecido, vigente, no qual vive que passa a estar sob ataques sitemáticos e organizados. Reagir, neste contexto, é defender-se. O homem comum não irá se engajar em um enfrentamento político a menos que seja provocado. É fácil perceber então que a (re)ação política conservadora tende a estar pautada pela ação revolucionária, estabelecendo uma dualidade ou complementaridade entre os dois entes, como matéria e anti-matéria.

Esta tendência "natural" se constitui em uma séria desvantagem para o Conservador, pois toda iniciativa de ação está com o Revolucionário. Nestas condições, o melhor score para o primeiro fica sendo o empate, ou seja, impedir o avanço do oponente, por hoje. Em embates sucessivos, o resultado médio será sempre favorável ao revolucionário, que vai deste modo caminhando, inexoravelmente, em direção à vitória final.

Por isso, uma mudança fundamental de estratégia se faz necessária. É preciso criar uma Ação Conservadora, um grupo de ação política planejada, pró-ativo, para tomar a iniciativa dos enfrentamentos nas diversas frentes onde o esquerdismo já é hegemônico: mídia, academia, movimentos estudantis e sindicais, igrejas. Algumas táticas empregadas podem ser semelhantes como ter militância de rua atuante, ocupar cada milímitro de espaço de mídia disponível, traduzir e divulgar literatura conservadora, ou até mesmo criar ONGs...

Uma segunda grande desvantagem para os Conservadores é que estes, intrínsecamente, são guiados por ideais éticos e morais, possuem a convicção do que é certo e do que é errado, absolutamente, o que limita suas opções de ação, ao passo que o oponente não tem qualquer limite pois crê que os fins justificam os meios, já que a revolução os redime de todos os pecados e culpas, liminarmente, enquanto lutam pelo paraíso prometido. Estas limitações incontornáveis para o Conservador precisam ser levadas em conta no seu planejamento estratégico para mitigar a vantagem tática do adversário.

terça-feira, setembro 13, 2005

Manifesto Conservador


“Tudo o que é necessário para o triunfo do mal é que os homens-de-bem não façam nada” – Edmund Burke
Visão

Parcela expressiva da população brasileira abraça valores tradicionais ou conservadores nos campos da ética, moral, religiosidade e cultura de um modo geral.

Tais valores não tem voz nem expressão política proporcional a sua presença na sociedade, ao contrário, valores antagônicos são hegemônicos, quer na produção de mídias de massa quer na produção intelectual. Sua escassa representação formal é carente de uma doutrina consistente que guie sua ação política.

O silêncio, a desarticulação e o não enfrentamento da hegemonia esquerdista tem como conseqüências a paulatina desconstrução e desconstituição de toda nossa herança civilizacional, conduzindo as gerações futuras a um beco sem saída, opressivo, sombrio e sem sentido.

O engajamento no combate a essa situação se inicia por explicitar um ideal conservador que promova a auto-identificação das pessoas como repositárias de um conjunto de valores comuns, derivando daí a reunião de semelhantes em busca de espaço político e da luta democrática pelo poder.

O objetivo desse blog é ser um espaço particiativo e democrático para a formulação, divulgação e discussão informal de tal ideário.

Nosso Legado

Cultura e civilização são progressivamente elaboradas ao longo de infindáveis gerações cujas origens se perdem no tempo. Neste processo histórico de tentativa e erro, o legado de uma geração a outra tende a reforçar suas conquistas e a depurar suas derrotas e falhas, consolidando um conhecimento coletivo cujos símbolos mais profundos e perenes passam a ser parte inseparável da própria identidade dos indivíduos.

A complexidade de nossa sociedade não seria possível sem que um vasto conjunto de valores expressos em tradições, hábitos, modos, crenças, linguagem, religiosidade, razão, moral, ética, comportamento e em tantos outros aspectos, não fosse partilhado por seus membros. Uma infinidade de símbolos e códigos, não escritos, informais e fragmentados, são transmitidos e assimilados de modo quase inconsciente, formando o seu conjunto um massivo conhecimento “não racional”. A Razão, como ferramenta da busca do Conhecimento, é parte valiosa porém derivada deste legado, não podendo portanto, abarcá-lo ou superá-lo por completo.

Por ser perene, fragmentado, desestruturado e em muitos aspectos não “racionalizado”, tal conhecimento não dispõe de uma descrição unificadora que permita depreender logicamente um senso de coerência do todo ou de consistência para cada uma de suas inúmeras partes. Coerência e consistência existem, mas foram forjadas pela interação de inúmeras pessoas em uma linha de tempo longa demais para ser completamente apreendida pela mente de um indivíduo.

Uma conseqüência importante destes aspectos é que as pessoas freqüentemente não tem o senso de totalidade de seus valores e, menos ainda, de qualquer identidade de grupo. Deste modo, quando agredidos ou confrontados em suas crenças mais arraigadas, a reação mais comum pode ser apenas uma vaga sensação de desconforto.

Tais características “naturais” não acarretavam ameaça ou desvantagem para as sociedades ocidentais até o advento do Iluminismo, que estabeleceu a crença de que a Razão apenas poderia “libertar” o homem de sua “ignorância” e “opressão” e relegando todo o conhecimento passado às trevas e à lata de lixo da História, como crendices descartáveis e indesejáveis. Esta prepotência arrogante abriu as portas da civilização ocidental para o advento do messianismo racionalista, e como conseqüência direta, das revoluções com seus banhos de sangue.

O Conservador e o Revolucionário

O Conservador, como ente político, só pode existir em dualidade e oposição à figura do Revolucionário. Este, imbuído do desejo de um mundo novo, e, mais ainda, do advento de um homem novo, luta por uma ruptura completa do tecido civilizacional em que se insere para implantar um projeto de humanidade desenhado nas mentes de um punhado de “iluminados” pretensamente detentores de uma “verdade” “racionalmente” estabelecida, que a tudo explica e a todos redime. É da necessidade de se opor a um projeto estruturado e sociopata de derrocada da civilização que deve surgir uma doutrina política conservadora, uma superestrutura aglutinadora do fragmentado conhecimento ancestral, catalizada por e em contra-ponto à ideologia revolucionária. Tal doutrina é necessária para guiar a luta política de enfrentamento à hegemonia esquerdista.

O Conservador e o Liberal

Assim como o Liberal, o Conservador crê que a liberdade do indivíduo é o bem primordial fruto da Civilização Ocidental, conquistado e estabelecido como valor inerente ao ser humano após milênios de História. Ambos entendem que a liberdade de pensamento, de expressão, de livre associação, de fazer suas próprias escolhas e seguir seu próprio rumo só persiste em sociedades democráticas cujos governantes são livre e periodicamente escolhidos pelos seus membros. Também entendem que as garantias e liberdades individuais e a própria Democracia só estarão asseguradas se houver liberdade de livre-empresa, ou seja, sob um regime econômico Capitalista.

A distinção, um tanto arbitrária, se faz quanto a ênfase economicista ou “de mercado” dada pelo Liberal à simbiose Democracia-Capitalismo e a visão empirista, mas incontestável, a respeito da superioridade deste sistema sobre os demais. As nações mais prósperas e com liberdades individuais asseguradas são as de Capitalismo avançado, e que, não ocasionalmente, possuem também as Democracias mais maduras. Por outro lado, todas as experiências socialistas resultaram em pobreza, opressão jamais vista na História humana e, freqüentemente, genocídio. Tal constatação dos fatos em geral basta ao Liberal para propugnar a adoção do “livre mercado” como solução para a maioria dos problemas das nações, inclusive a falta de Democracia. Já o Conservador entende que tais conquistas só são possíveis em uma Cultura com valores éticos e morais adequados e de toda uma intrincada rede de saberes que se articulam e colaboram para tornarem possível as modernas sociedades. Estes conhecimentos permitem, por exemplo, transformar o impulso de empreendedorismo nato do homem em organizações de trabalho extremamente complexas onde colaboram dezenas de milhares de pessoas para a realização de objetivos comuns.

A existência de tais pressupostos refletem o estágio de “adequação cultural” de uma sociedade que irá promover ou restringir seu desenvolvimento, sua prosperidade e o grau de liberdade de seus cidadãos. Estas condições não podem ser facilmente exportadas de uma sociedade para outra, de modo que diferenças nos diversos níveis de desenvolvimento das nações são esperadas.

Estereótipos (Esquerdistas) do Conservador

Ser Conservador não é sinônimo de apologia ao imobilismo ou à imutabilidade de tudo, nem da manutenção incondicional do “status quo”, ao contrário, o Conservador deseja e promove mudanças contínuas, porém levando em conta as condições de seu tempo e as lições aprendidas por seus antepassados, lições sobre o que deve ser preservado e o que deve ser mudado, seja por erro, por inadequação à novas situações ou por melhoramentos que devam ser agregados.

Ser Consevador não significa ser um oligarca, latifundiário, “coronel nordestino” ou ainda um saudosista do Império ou da Escravatura. Menos ainda ser um fascista, variante do socialismo tão sociopata quanto este.

O Conservador e a Brasilidade

O Conservador entende que a Cultura Brasileira é formada pela contribuição de diversas outras, dissolvidas e reprocessadas nesse imenso caldeirão chamado Brasil. Sabe que a miscigenação é uma característica ímpar e um diferenciador primordial do país, nação de imigrantes que a todos recebe de braços abertos. Nossa colonização européia forneceu o traço dominante civilizacional, sua ocidentalidade, expressa pelas raízes judaico-cristã e greco-romana, sua latinidade pela origem ibérica, e incorporou marcantes contribuições africanas e indígenas, gerando uma nação e um povo originais e únicos.

Auto-Teste

Você caro leitor, freqüentemente estranha que:
  • A língua portuguesa, tão antiga, parece que sempre esteve errada e vivem tentando te impingir uma novilíngua?
  • Uma série de conceitos “politicamente corretos”, saídos não se sabe de onde, se tornaram normas de conduta compulsórias mas ninguém jamais lhe consultou a respeito?
  • Uma miríade de ONGs das quais você nunca ouviu falar antes, mas ricas em financiamento estrangeiro, estão na mídia falando em seu nome (e de todos), mas você nunca votou em nenhuma delas ou lhes outorgou qualquer procuração?
  • As mais diversas minorias, mesmo tendo assegurado todos os direitos civis de livre manifestação e associação e de levarem a vida como bem entenderem parecem não se satisfazerem com não menos do que tornar seus valores hegemônicos na sociedade, de modo que você começou a se sentir em minoria?
  • A apologia de compartamentos que você sabe que não são os seus, de sua família, de seus colegas ou vizinhos, ocupam todo o espaço na mídia e seu modo de vida parece a caminho da extinção inexorável?
  • A livre-escolha do tipo de educação que você deseja para seus filhos, religiosa inclusive, parece constantemente ameaçada de ser tolida em prol de um ensino público compulsório e homogêneo para todos?
  • Um punhado de gente faça um esforço danado para se certificar que você não possa optar pela auto-defesa, de seu lar, família ou negócio?
  • Você tenha sido julgado e condenado pela escravidão do passado, mesmo que você seja um nipo-descendente com menos de 50 anos de Brasil, e que como pena do crime que você e seus pais não cometeram você terá de aceitar o estabelecimento de “políticas afirmativas”, sem direito à opinião (jamais ninguém te perguntou o que você pensa a respeito, não é mesmo?) , tudo em nome da concialição e da concórdia nacional?
  • Tem sempre alguém querendo descriminalizar o consumo e até o comércio de drogas quando o que você mais quer é manter seus filhos o mais longe possível delas?

Se você leitor respondeu afirmativamente a maior parte das questões acima (e tantas outras semelhantes), lamento lhe informar, mas você é um Conservador, ou ainda, horror-dos-horrores, você é “de Direita”.

Se o mundo parece estar tomando um rumo que não é o que você almeja para si mesmo e sua família, abandone o silêncio e a inação e faça algo a respeito, ou “o mal triunfará”.